EXERCÍCIO DE OBSERVAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO
Após a leitura do exemplo anterior, impõe-se uma pausa. Não para descanso, mas para aplicação. A compreensão da narrativa não se consolida pela contemplação passiva, e sim pelo gesto concreto da escrita.
O exercício que se segue é simples na forma, mas rigoroso em intenção. Ele não exige imaginação exuberante nem domínio estilístico avançado. Exige apenas atenção ao ponto central que foi exposto: a transformação interior.
Propõe-se ao leitor que escreva uma cena em que, à primeira vista, nada de relevante aconteça. Não há ação dramática, nem acontecimento extraordinário. O ambiente pode ser cotidiano, quase banal. Um encontro trivial, uma espera, uma conversa breve, um momento de solidão.
Entretanto, ao final da cena, algo deve ter se alterado no personagem. Não se trata de mudança declarada, mas percebida. O personagem compreende algo que antes ignorava, ou confirma uma suspeita que preferia evitar. Pode ser um deslocamento mínimo, mas precisa ser real.
Algumas orientações são necessárias:
- Evite explicar a mudança de maneira direta. Permita que ela se revele por meio de gestos, pensamentos ou pequenas escolhas.
- Não introduza conflitos externos artificiais para “animar” a cena. A tensão deve nascer da percepção, não do espetáculo.
- Limite-se a um único ponto de vista. A dispersão enfraquece a observação.
- Mantenha a extensão moderada. A precisão vale mais que a abundância.
Após concluir o texto, recomenda-se deixá-lo de lado por algum tempo. Ao retomá-lo, pergunte-se, com honestidade: o personagem é o mesmo no início e no fim? Se a resposta for afirmativa, o exercício ainda não cumpriu sua função.
Este trabalho não busca produzir um texto memorável, mas treinar o olhar. Quem aprende a reconhecer a mudança interior começa, pouco a pouco, a compreender onde a narrativa realmente acontece.
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