EXERCICIO DE AJUSTE AO LEITOR
Depois de compreender que todo texto pressupõe um leitor, é necessário colocar esse princípio à prova. Não basta reconhecê-lo em teoria; é preciso senti-lo agir no corpo da escrita. O exercício proposto nesta página tem precisamente essa finalidade.
Escolha um parágrafo curto — pode ser de sua autoria ou extraído de um rascunho anterior. Não importa que o texto seja brilhante; importa que seja claro o bastante para ser retrabalhado. Em seguida, reescreva esse mesmo parágrafo duas vezes, obedecendo a orientações distintas.
Na primeira versão, escreva como se falasse a um leitor iniciante. Alguém que ainda não domina os hábitos da leitura literária, que precisa de sinais mais evidentes, de encadeamentos mais visíveis. Isso não significa empobrecer o pensamento, mas organizar melhor a condução.
Na segunda versão, escreva para um leitor experiente. Alguém acostumado a inferir sentidos, a tolerar silêncios e a perceber nuances. Aqui, permita-se omitir explicações, confiar na sugestão e reduzir o excesso de esclarecimento.
Durante o processo, observe com atenção:
- O que foi necessário explicar em uma versão e pôde ser omitido na outra.
- Como o ritmo se altera conforme o leitor pressuposto.
- Quais palavras se tornaram dispensáveis quando a confiança aumentou.
- Em que pontos a clareza se fortaleceu sem recorrer à repetição.
Ao concluir, compare os dois textos sem juízo apressado. Nenhuma das versões é superior em essência. Ambas cumprem funções distintas. O valor do exercício está em perceber que o conteúdo pode permanecer o mesmo enquanto a forma se adapta.
Este trabalho ensina uma lição fundamental: escrever bem não é escrever de uma única maneira correta, mas saber ajustar a linguagem ao leitor que se escolhe acompanhar. Quem ignora essa relação escreve ao acaso; quem a domina escreve com intenção.
Assim, pouco a pouco, a escrita deixa de ser ornamento e passa a cumprir seu papel mais nobre: servir como instrumento preciso de comunicação e pensamento.
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