DO SILÊNCIO E DO NÃO DITO

Nem tudo o que se pensa precisa ser escrito, assim como nem tudo o que se escreve precisa ser explicado. Há, na boa escrita, um espaço deliberado para o silêncio. Esse espaço não é vazio; é convite. O leitor atento percebe nele a continuidade do pensamento e completa, por conta própria, aquilo que o autor sabiamente deixou em suspenso.

O excesso de explicações nasce, muitas vezes, da insegurança. O autor teme não ser compreendido e, por isso, insiste, repete, reforça. Contudo, a clareza verdadeira não se impõe pela insistência, mas pela justeza. Uma frase bem colocada dispensa comentários adicionais.

Aprender a calar no texto é exercício difícil. Exige confiança na própria linguagem e respeito pela inteligência do leitor. O não dito, quando bem empregado, amplia o alcance do que foi dito. Sugere mais do que afirma e, por isso mesmo, permanece.

Observação

Note como certos trechos ganham força quando interrompidos no momento exato. O silêncio, ali, funciona como pausa necessária, semelhante à respiração na fala. Uma escrita sem pausas cansa; uma escrita que respira convida.

Exemplo - Considere as formas:

— Ele estava triste porque havia perdido algo muito importante para ele.

— Perdera o que mais lhe importava.

A segunda frase confia no leitor e permite que o sentimento se expanda além das palavras.

Prática

Reescreva um trecho explicativo de seu texto eliminando as justificativas diretas. Substitua-as por uma frase curta que sugira o sentido. Em seguida, afaste-se do texto por algumas horas e releia. Se o sentido permanecer, o silêncio cumpriu sua função.

A escrita que sabe calar não empobrece o discurso; enriquece-o. É no intervalo entre as palavras que o pensamento encontra espaço para durar.

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