DA REVISÃO COMO ATO DE PENSAMENTO

É comum supor que a revisão seja tarefa menor, mero ajuste de palavras já ditas. Nada mais enganoso. Revisar é pensar novamente. É retornar ao texto com olhos menos indulgentes e espírito mais atento. O que não se sustenta na revisão, raramente se sustentará diante do leitor.

O primeiro rascunho costuma carregar o ímpeto da ideia. Nele, o pensamento ainda vem desordenado, apressado por se ver no papel. Isso é natural e até necessário. O erro está em tomar esse impulso inicial como forma definitiva. A escrita amadurece quando o autor aprende a desconfiar do que escreveu com facilidade excessiva.

Revisar não é alongar o texto, mas depurá-lo. Muitas vezes, a melhora ocorre pela supressão. Uma frase retirada esclarece mais do que um parágrafo acrescentado. O escritor experiente não se apega às palavras; apega-se ao sentido.

Observação

Ao reler um texto, pergunte-se: esta frase é necessária? Contribui para o avanço da ideia ou apenas repete o que já foi dito? A repetição involuntária é um dos sinais mais claros de falta de revisão.

Exemplo - Compare os trechos:

— Ele entrou na sala, que estava vazia, e percebeu que não havia ninguém ali.

— Entrou na sala vazia.

A segunda frase não é mais curta por economia gratuita, mas por respeito ao leitor.

Prática

Escolha um parágrafo de sua autoria e marque, sem piedade, tudo o que puder ser retirado sem prejuízo do sentido. Em seguida, reescreva o parágrafo com as palavras restantes, ajustando o ritmo. Leia em voz alta. A clareza costuma resistir ao corte.

Revisar é, em última instância, um gesto de humildade. Reconhecer que o texto pode melhorar é reconhecer que o pensamento ainda está em formação. Quem revisa escreve duas vezes; quem se recusa a fazê-lo escreve apenas para si.

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