DA LEITURA ATENTA AO CONTROLE DA LINGUAGEM
Chegado este ponto, convém deter o passo. Não para recuar, mas para observar com mais cuidado o terreno já percorrido. A escrita, quando levada a sério, exige do autor uma virtude rara: atenção. Atenção às palavras escolhidas, ao peso das frases e, sobretudo, ao efeito que produzem em quem lê.
Ler bem não é correr os olhos sobre a linha impressa, mas escutá-la em silêncio. O bom escritor nasce, antes de tudo, de um leitor atento. Não daquele que busca apenas a história, mas daquele que percebe o modo como ela é contada. A ordem das ideias, a pausa entre os períodos, a escolha de um termo simples onde outro mais vistoso poderia estar — tudo isso ensina.
Observe-se que os autores duradouros raramente escrevem com excesso. Preferem a precisão ao brilho fácil. Sabem que a clareza não empobrece o pensamento; ao contrário, dá-lhe forma. Uma frase bem construída sustenta-se sozinha, sem precisar de ornamentos supérfluos.
Observação
Leia um parágrafo curto de um autor consagrado. Não pergunte apenas “o que ele disse?”, mas “como ele disse?”. Note onde começa a ideia, onde ela se desenvolve e onde se encerra. Perceba o ritmo. A escrita tem respiração.
Exemplo - Compare duas frases que dizem a mesma coisa:
— Ele estava muito cansado depois de um longo dia de trabalho.
— Chegara ao fim do dia com o corpo vencido.
Ambas comunicam o cansaço. A segunda, porém, confia mais no leitor e utiliza menos palavras. Não é mais bela por acaso, mas por escolha.
Prática
Reescreva três frases de um texto seu, reduzindo-as sem perder o sentido. Corte excessos, substitua explicações longas por imagens simples, e leia em voz alta. Se a frase soa clara ao ouvido, provavelmente está clara no papel.
Assim, pouco a pouco, o escritor aprende a governar a linguagem. Não se trata de dominar palavras raras, mas de empregar as necessárias. A escrita eficaz não se impõe pelo ruído, mas pela firmeza. Forma leitores atentos, porque nasce de um autor igualmente atento.
E é desse exercício constante — observar, compreender e praticar — que se constrói uma escrita que não busca aplauso imediato, mas permanência.
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