DA DISCIPLINA E DO OFÍCIO

A escrita, quando reduzida a impulso, raramente alcança maturidade. O entusiasmo inicial pode acender a chama, mas é a disciplina que a mantém acesa. Convém, portanto, abandonar a ideia romântica do escritor que depende apenas da inspiração. O texto sólido nasce do hábito, não do acaso.

Escrever é ofício. Como tal, exige regularidade, método e paciência. Não se trata de produzir muito, mas de produzir com constância. Uma página bem trabalhada por dia vale mais do que capítulos apressados, redigidos sob o fervor passageiro do momento. O papel aceita tudo; o leitor, não.

O escritor atento estabelece horários, mesmo que breves, e respeita-os como quem respeita um compromisso sério. Nesse intervalo, escreve, revisa ou simplesmente relê o que já foi feito. A familiaridade com o próprio texto é construída assim, pouco a pouco, sem alarde.

Observação

Note que os autores de longa duração raramente falam de genialidade. Falam de trabalho. A repetição não empobrece o estilo; ao contrário, depura-o. É no retorno constante às mesmas ideias que o pensamento se organiza e se fortalece.

Exemplo

Considere dois modos de escrever:

— aquele que espera o momento perfeito para começar;

— e aquele que começa, ainda que imperfeito, e retorna ao texto no dia seguinte.

O segundo, embora menos vistoso, quase sempre chega mais longe.

Prática

Estabeleça um período curto e fixo para escrever durante sete dias consecutivos. Não busque excelência imediata. Busque presença. Ao final da semana, releia o conjunto e observe como a continuidade produz clareza e segurança.

A escrita não recompensa o descuido, mas responde generosamente à persistência. Quem a trata como passatempo colhe dispersão; quem a assume como ofício colhe forma. E é dessa relação séria e constante com o trabalho que nasce uma voz própria — não apressada, não ruidosa, mas firme o bastante para permanecer.

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