DA CLAREZA COMO RESPONSABILIDADE

A clareza não é adorno do texto; é dever do autor. Escrever de modo obscuro não torna o pensamento mais profundo, apenas o torna inacessível. Quando a linguagem falha, a ideia não chega ao leitor, e todo o esforço se perde no caminho. Por isso, convém tratar a clareza não como virtude opcional, mas como responsabilidade assumida.

Ser claro não significa ser simplório. A clareza bem exercida exige rigor. É preciso escolher as palavras com cuidado, ordenar as frases com intenção e eliminar aquilo que atrapalha o avanço do pensamento. O texto claro conduz o leitor sem empurrá-lo, orienta sem gritar.

Muitos confundem dificuldade com valor. No entanto, a escrita que permanece é aquela que pode ser relida sem esforço excessivo. O leitor retorna não porque sofreu, mas porque compreendeu. E a compreensão, longe de empobrecer, aprofunda a relação com o texto.

Observação

Ao escrever, pergunte-se se cada frase cumpre uma função definida. Se não acrescenta sentido, direção ou nuance, talvez seja apenas ruído. O excesso, quase sempre, encobre a ideia em vez de revelá-la.

Exemplo - Compare as construções:

— Em virtude do fato de que ele não possuía os meios necessários para continuar, decidiu interromper o projeto.

— Sem meios para continuar, interrompeu o projeto.

Ambas dizem o mesmo. A segunda respeita o tempo e a atenção do leitor.

Prática

Escolha um trecho de seu texto e sublinhe as palavras abstratas ou vagas. Substitua-as por termos concretos sempre que possível. Em seguida, leia o texto como se fosse de outro autor. Se a ideia chegar sem esforço, a clareza foi alcançada.

A clareza, afinal, é gesto de consideração. Quem escreve com nitidez demonstra que pensou antes de falar e que reconhece no leitor não um obstáculo, mas um parceiro atento.

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