DA AÇÃO COMO REVELAÇÃO DO PERSONAGEM
O personagem não se define pelo que declara a respeito de si, mas pelo que faz quando colocado sob pressão. A narrativa eficaz dispensa longas descrições de caráter; prefere situações que obriguem o personagem a agir. É na escolha, muitas vezes rápida e imperfeita, que se revela quem ele é.
Convém lembrar que o leitor observa com atenção. Um gesto pequeno pode dizer mais do que um discurso inteiro. A mão que hesita antes de bater à porta, o olhar que se afasta no momento decisivo, a palavra que não é dita — tudo isso compõe o retrato moral do personagem com maior precisão do que adjetivos acumulados.
Observação
Sempre que sentir a tentação de explicar o personagem, interrompa-se. Pergunte: em que situação posso colocá-lo para que ele se mostre por si? A ação substitui a explicação. O comportamento concreto sustenta o julgamento do leitor.
Exemplo
Descrição explicativa:
— Era um homem orgulhoso e incapaz de pedir ajuda.
Ação reveladora:
— Precisando de ajuda, preferiu sair mais cedo e enfrentar o problema sozinho.
A segunda forma não afirma o traço; permite que o leitor o reconheça.
Prática
Escolha um personagem de sua história ou crie um novo. Defina um desejo simples e imediato. Em seguida, introduza um obstáculo que exija decisão. Escreva a cena sem adjetivar o personagem. Limite-se a registrar o que ele faz, o que evita e o que escolhe.
Ao reler, verifique se o caráter do personagem se torna perceptível apenas pelas ações. Se isso ocorrer, o objetivo foi alcançado.
A escrita madura confia na inteligência do leitor e na força da cena. Quando a ação fala, o personagem se estabelece com firmeza e permanece. É assim que a narrativa ganha densidade sem recorrer ao excesso, e é assim que o autor cumpre sua função com discrição e rigor.
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