APRENDENDO A PENSAR NA LEITOR

O que você vai aprender aqui?

Você vai aprender que:

O escritor sempre conversa com alguém.

O jeito de escrever muda dependendo de quem vai ler.

Um mesmo texto pode ser entendido de formas diferentes.

Vamos usar textos de verdade de Machado de Assis para treinar isso.

EXEMPLO 1 — Memórias Póstumas de Brás Cubas

📖 Texto original:

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”

Explicação

Aqui, o autor está falando de si mesmo.

Ele diz que não teve filhos e, por isso, não passou seus problemas para ninguém.

Mas ele não fala isso triste.

Ele fala com ironia, quase como uma piada séria.

Agora vamos ver como esse texto muda para um leitor iniciante

Não tive filhos e, por isso, não deixei meus problemas para ninguém. Estou dizendo isso de forma irônica, como se fosse algo bom não ter passado minhas dificuldades adiante.

O que mudou?

O texto explica a ideia para ninguém se confundir.

Para um leitor experiente

Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

O que mudou?

Nada. O texto original já confia que o leitor vai entender sozinho.

✅ Lição:

Às vezes o escritor explica mais. Às vezes, ele confia no leitor.

EXEMPLO 2 — Dom Casmurro

Texto original:

“Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu.”

Explicação - O narrador começa contando algo simples:

ele estava no trem e encontrou alguém conhecido.

Mas esse jeito de começar a história é importante porque:

• parece conversa;
• parece memória;
• parece alguém contando algo do passado.

Para um leitor iniciante

O narrador começa a história contando que estava voltando para casa de trem e encontrou um rapaz conhecido. Ele usa esse momento para iniciar uma lembrança do passado.

Aqui o texto ajuda o leitor a entender o começo da história.

Para um leitor experiente

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro.

Aqui o texto deixa o leitor descobrir sozinho que isso é uma lembrança.

✅ Lição:

O escritor pode explicar tudo ou deixar o leitor montar o quebra-cabeça.

EXEMPLO 3 — Quincas Borba

📖 Texto original:

“Ao vencedor, as batatas.”

Explicação - Essa frase parece simples, mas esconde uma ideia dura:

• quem ganha fica com tudo;
• quem perde fica sem nada.

Ela faz parte de uma filosofia estranha criada pelo personagem.

Para um leitor iniciante

Essa frase quer dizer que, em uma disputa, quem vence leva tudo, mesmo que outra pessoa sofra por isso.

Aqui o texto explica o sentido escondido.

Para um leitor experiente

Ao vencedor, as batatas.

Aqui o texto não explica nada.

Ele espera que o leitor pense.

✅ Lição:

Textos curtos também podem ter ideias grandes.

🧠 CONCLUSÃO

Escrever não é só juntar palavras.

Escrever é pensar em quem vai ler.

Um bom escritor sabe:

• quando explicar;
• quando deixar o leitor pensar sozinho.

Agora é sua vez:

Pegue uma frase de um livro ou uma frase sua.

Explique ela como se fosse para:

1. uma criança
2. um adulto